[ breviário de decomposição ]

segunda-feira, 17 de abril de 2006

Filme do dia (ou melhor, da noite)

Acabei de assistir há pouco o DVD do filme Como Água para Chocolate (México, 1992), dirigido por Alfono Arau, e estrelado por Marco Leonardi (de Cinema Paradiso) e Lumi Cavazos.

Ambientado no México do início do século passado, na época da Revolução Constitucionalista, o filme conta a história do amor proibido entre Tita (Cavazos), e Pedro (Leonardi). Tita é a mais jovem de três irmãs que, junto com a mãe, Elena (Regina Torné) administram um pequeno rancho na região setentrional daquele país, próximo à fronteira com o Texas, nos Estados Unidos. Mas, por ser a mais nova, deve seguir a tradição de sua família, permanecendo solteira para cuidar de sua mãe na velhice.

Apaixonada e impedida de amar, Tita está disposta a lutar até a morte para quebrar a tradição. Pedro, por sua vez, resolve se casar com Rosaura, a irmã mais velha, apenas para se mudar para o rancho e, assim, se aproximar de sua verdadeira amada. E Tita encontra uma maneira inusitada de corresponder ao seu amor. Encarregada da cozinha, prepara pratos elaborados que magicamente transmitem a quem os degusta suas verdadeiras sensações.

Assim, através da comida, Tita consegue, por exemplo, externar a tristeza que sentiu ao saber que o amor da sua vida se casaria com sua própria irmã, ou ainda penetrar no corpo de Pedro, sensual e voluptuosa, revelando todo o seu desejo sem sequer tocá-lo. Seus pratos conseguem até despertar paixões secretas e arrebatadoras em sua irmã do meio, Gertrudis, que acaba fugindo com um sargento do grupo revolucionário villista. Quem não queria uma cozinheira assim?

O filme é uma adaptação do romance homônimo de Laura Esquivel, com roteiro da própria autora — e que, por sinal, é também esposa do diretor Alfonso Arau. E, embora seja ambientado num período importante da história do México, quem dá o tom central não é a revolução constitucionalista, nem os soldados revolucionários de Pancho Villa ou Emiliano Zapata, mas sim o pecado capital da gula.

A comida — e, principalmente, as sensações que ela desperta — conduz a trama por caminhos interessantes, que quase sempre passam bem longe do óbvio. O resultado é fantástico, tanto que inspirou outros grandes filmes como Chocolate e Sabor da Paixão.

As filmagens foram feitas no próprio local onde a história é ambientada, no deserto do Norte do México, estado de Coahuila, e começaram em janeiro de 1991, tendo se estendido por todo aquele ano. E os sets do rancho de Mamá Elena, construídos na região de El Mirador, ainda são atração para turistas que visitam o local.

Por sua rara beleza e sensibilidade, Como Água para Chocolate foi aclamado pelo público no mundo inteiro, mas fez sucesso especialmente no Brasil. Foi indicado para o Globo de Ouro como Melhor Filme de Língua Estrangeira, e recebeu o prêmio de público como Melhor Filme e Melhor Atriz (Lumi Cavazos) no Festival de Cinema de Gramado, no Brasil. Em seu país de origem, recebeu nada menos do que dez prêmios Ariel, o Oscar mexicano, incluindo os de Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Diretor, Melhor Ator e Melhor Atriz.

O ator e diretor Alfonso Arau nasceu em 11.01.1932 e começou sua carreira no início dos anos 60. Poucos, no entanto, imaginariam que sua longa experiência em teatros e novelas mexicanos o levaria aos cinemas de Hollywood, no clássico The Wild Bunch, de Sam Peckimpah, em 1969, e também no filme Carros Usados (Used Cars, 1980, de Robert Zemeckis). Como diretor, recebeu prêmios pelas produções El Águila Descalza (The Barefoot Eagle, 1969), Calzonzin Inspector (1973) e consagrou-se internacionalmente com Como Água para Chocolate. Sua mais recente produção, Picking Up Pieces (2000), conta com a participação de Woody Allen e de Sharon Stone.