[ breviário de decomposição ]

sábado, 3 de junho de 2006

Cup Noodles para o jantar


Depois de muito hesitar, estou publicando o post de hoje. Na realidade, hesitação não seria a palavra mais adequada para retratar o que está acontecendo. Na realidade, detive-me durante todo o dia com meus pensamentos, avaliando e aquilatando corretamente cada uma das sensações que se sobrepunham dentro da minha cabeça. Não sei se fui exatamente feliz na empreitada, mas a algumas cheguei. Às vezes me sinto como se estivesse surpreendendo a mim mesmo, assuntado, tentando reacender as poucas brasas que restaram de um casamento que por certo não foi muito feliz ao longo dos quase seis anos que se arrastou. Diferenças nos nossos pontos de vista podem fazer com que o móvel desta sentença possa pender mais para um lado ou para o outro, mas resolvi dar isso como certo. Ajuda bastante e, por certo, simplifica bastante as coisas. Como já relatei neste egotrip faz dias que algo realmente mudou em nossa relação. Percebo-o facilmente no ar. E mudou para um modo completamente estranho. A sua indiferença (ou frieza, chamem como quiser) para comigo está ainda mais gritante, mais acentuada. Para mim, mais doída e impingindo a tomada de uma decisão. Seria bem melhor que isso ocorresse logo, pois me pouparia de dias que se arrastam mais cheios de dissabores, o que atiça ressentimentos. Ela saiu pouco após o almoço. Meio que receiosa, pediu-me para deixá-la num determinado lugar na 507 W3 Sul, onde iria encontrar-se com uma amiga, V. Por volta das 21 h telefonou da casa de V., na 114 Sul, dizendo-me onde se encontrava e que ela a deixaria de volta aqui em casa logo mais, pois estavam bebendo vinho. Quase às 23 h telefona-me de novo dizendo que iria dormir lá, pois V. não estava em condições de trazê-la e já estaria tarde para eu ir buscá-la. Perdi um pouco a paciência, mas com toda frieza disse-lhe que a verdade da estória era que o que ela não queria mesmo era dormir em casa. "Também...", foi a sua lacônica resposta. Se não fosse por uma Cup Noodles, certamente iria dormir com fome. Salve bendita invenção. No fim da tarde tentei por meus pensamentos em ordem, caminhando no Parque Olhos d’Água, que fica na quadra onde moro. Fazia um belo fim de tarde de outono, com um límpido céu azul e uma agradável brisa fria. A luz estava muito bonita mesmo. Recordo-me dentre os insights de consciência que também tinha em mente excertos da obra Exercícios de Admiração, de Cioran, que havia lido pela manhã, pouco depois de acordar. Era uma referência sobre Borges e sobre o livro Breviário de Decomposição, do próprio Cioran.

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