[ breviário de decomposição ]

sábado, 30 de dezembro de 2006

Os homens ocos


Foto de David Martins

Hoje o dia está como eu: triste, cinzento... distante. Inquieto. Estou também inquieto. Há momentos em que ficamos estarrecidos com as perplexidades da vida, como eu agora... Então as coisas, as pessoas, os sentimentos, a própria existência, tudo parece ser um grande non sense, um nada para o qual retornamos sempre ao acordar. Lembrei que T. S. Eliot a certa altura escreveu:

Nós somos homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Os pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

Fôrma sem forma, sombra sem cor,
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessam
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam - se o fazem - não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.

(Os homens ocos, I, 1925. In Poesia, trad. Ivan Junqueira)


1 Comments:

Postar um comentário

<< Home