[ breviário de decomposição ]

domingo, 18 de março de 2007

Atualizando a biblioteca

- 40 Poem(a)s, e. e. cumiings; 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1986;

- Ciranda de Pedra, Lygia Fagundes Telles (col. Grandes Sucessos; São Paulo: Abril Cultura, 1982;

- Tempos Difíceis, Charles Dickens; São Paulo: Clube do Livro, 1969;

- Estado de Sítio / O Estrangeiro, Albert Camus (col. Obras-Primas); São Paulo: Abril Cultura, 1979;

- O Amanate de Lady Chattertley, D. H. Lawrence (col. Os Imortais da Literatura Universal); São Paulo: Abril Cultural, 1972;

- A Estrela Sobe, Marques Rebelo; São Paulo: Círculo do Livro, [entre 1985 e 1989];

- Novelas para um ano: Dona Mimma, Luigi Pirandello (col. Letras Italianas); são Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2000;

- Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?, Edward Albee (col. Teatro Vivo); São Paulo: Abril Cultural, 1977;

- Maria Stuart, Schiller (col. Obras-Primas); São Paulo: Abril Cultura, 1983;

- Navalha na Carne / Quando as Máquinas Param; São Paulo: Círculo do Livro, [entre 1981 e 1984];

- A Mulher que Amou Demais, Myrna (Nelson Rodrigues); São Paulo: Cia. das Letras, 2003;

- Lira dos Vinte Anos, Álvares de Azevedo (col. Grandes Leituras); 3ª ed. São Paulo: FTD, 1989;

- Mulheres, Crarles Bukowski (col. Circo de Letras); 3ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.



Pois bem. Não tenho dúvidas de que todas aquelas são excelentes obras, mas para mim o destaque dessa seleção é 40 Poem(a)s, do norte-americano e.e. cummings. Estranha a grafia do seu nome, não? Mesmo não sendo uma representação endossada por ele, seus editores frequentemente refletem sua sintaxe atípica ao escrever seu nome em caixa baixa: e.e. cummings.

Edward Estlin Cummings (14.10.1894 - 03.09.1962) é bastante conhecido pelo estilo não usual utilizado em muitos de seus poemas, que incluem o uso não ortodoxo tanto das letras maiúsculas quanto da pontuação, com as quais, inesperadamente, sem motivo e de forma aparentemente errônea, é capaz de interromper uma frase, ou mesmo palavras individualmente. Muitos de seus poemas possuem, também, uma distribuição não convencional, aparentando pouco ou nenhum sentido até serem lidos em voz alta.

Apesar da afinidade de cummings por estilos avant garde e por uma tipografia não usual, muito de seu trabalho é tradicional, apresentando, por exemplo, formato de soneto. Seus poemas com frequência tem como temas o amor e a natureza, bem como sátiras e o relacionamento do indivíduo com as massas e com o mundo.

Durante sua vida ele publicou mais de 900 poemas, duas novelas, diversos ensaios e também inúmeros desenhos, sketches e pinturas. É lembrado como uma das vozes mais importantes da literatura do século XX.

O achado, 40 Poem(a)s, não é um livro que se encontra com muita facilidade por aí não... Garimpava nos sebos há vários anos por algum dos escassos títulos de cummings em português, sem qualquer êxito eté então. A bem da verdade, dele só tenho conhecimento dos seguintes: esse 40 Poem(a)s a que me referi, 20 Poem(a)s (Florianópolis, Noa-Noa, 1979), 10 Poemas (Rio de Janeiro, Serviço de Documentação-MEC, 1960), e o mais recente Poem(a)s (Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1999) todos eles na tradução ou melhor, na "transcriação" do concretista Augusto de Campos.

Meu primeiro contato com cummings se deu a cerca de uma década, quando fui presenteado com um exemplar das primeiras memórias do bibliófilo e Imortal José Mindlin, Uma vida entre Livros: Reencontros com o tempo. Lá pelas tantas o Mindlin se "atreveu" (palavras dele) a traduzir um poema daquele autor. Ei-lo:

Talvez não seja sempre assim; e assim te digo
Que teus lábios, que eu amei, tocarem noutros,
E teus dedos, fortes e queridos, agarrem
Um outro coração, como ao meu em tempo tão remoto;
Se no rosto de outro tua doce cabeleira se esparzir
No silêncio que tão bem conheço, ou entre grandes
Palavras sofredoras, que exprimindo demais em seu murmúrio,
Impotentes se alinham ante o espírito acuado;

Se isto se der, se isto se der, repito
Tu que és tão minha, não o escondas de mim;
Para que eu possa ir a ele, e, tomando-lhe as mãos,
Dizer, Aceita de mim esta ventura toda.
Depois eu voltarei meu rosto, e ouvirei um pássaro
Cantar terrivelmente longe nas regiões perdidas.


Certa vez fiz um commnet lá no Glossolalia a partir de um post da minha querida Lu Melo sobre o cummings. Na ocasião ela havia publicado o seguinte poema dele:

carry your heart with me (i carry it in my heart)
I am never without it (anywhere
I go you go, my dear; and whatever is done
by only me is your doing, my darling)

I fear not fate (for you are my fate, my sweet)
I want no world (for beautiful you are my world, my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life; which grows
higher than soul can hope or mind can hide)

and this is the wonder that's keeping the stars apart
I carry your heart (i carry it in my heart)


Pesquisando um pouco, encontrei a seguinte tradução (de Regina Werneck):

eu levo o seu coração comigo (eu o levo no meu coração)
eu nunca estou sem ele (a qualquer lugar
que eu vá, meu bem, e o que que quer que seja feito
por mim somente é o que você faria, minha querida)

tenho medo que a minha sina (pois você é a minha sina, minha doçura)
eu não quero nenhum mundo (pois bonita você é meu mundo, minha verdade)
e é você que é o que quer que seja o que a lua signifique
e você é qualquer coisa que um sol vai sempre cantar

aqui está o mais profundo segredo que ninguém sabe
(aqui é a raiz da raiz e o botão do botão
e o céu do céu de uma árvore chamada vida, que cresce
mais alto do que a alma possa esperar ou a mente possa esconder)
e isso é a maravilha que está mantendo as estrelas distantes

eu levo o seu coração (eu o levo no meu coração)


Eis um outro poema dele que encontrei burilando por aí (tradução de Jorge Fazenda Lourenço):

já que sentir é primeiro
quem presta alguma atenção
à sintaxe das coisas
nunca há-de beijar-te por inteiro;

por inteiro ensandecer
enquanto a Primavera está no mundo
o meu sangue aprova,
e beijos são melhor fado
que sabedoria
senhora eu juro por toda a flor. Não chores
- o melhor movimento do meu cérebro vale menos que
o teu palpitar de pálpebras que diz

somos um para o outro: então
ri, reclinada nos meus braços
que a vida não é um parágrafo

E a morte julgo nenhum parêntesis


Links:

O Poema - e.e. cummings
Revista CRITÉRIO - Cummings
Reduto Literáio - cummings
Germina Literatura - e.e. cummings
e-cummings
::Rádio USP:FM 93,7:Biblioteca Sonora:5 de junho de 2006::
EEC links page
SPRING 4 contents
SPRING Contents Index
SPRING home page
decapitalization of E. E. Cummings
The Patchin Page #

Marcadores:

2 Comments:

  • Eu gosto de cummings pela poesia mais limpa que ele buscava, sem muitos floreios e rebuscamentos (e se digo que gosto da poesia dele é pq gosto mesmo. Não costumo ter poetas prediletos, por admirar mais textos em prosa).

    Esse poema traduzido pela Regina Werneck é o que de melhor se salva em um filme com a Cameron Diaz e a Toni Collete, "In her shoes", lido pela primeira ao final, e é mesmo muito bonito: "eu levo o seu coração (e o levo no meu coração)".

    beijos

    By Blogger Aleksandra Pereira, at segunda-feira, 19 de março de 2007 às 11:49:00 BRT  

  • Ed querido, ainda lembro do seu comentário lá no Glossolalias... nossa, se um dia sentarmos para falar de tantas afinidades, as horas serão poucas.
    Fala a verdade, essa estrofe é primorosa, não é?

    here is the deepest secret nobody knows
    (here is the root of the root and the bud of the bud
    and the sky of the sky of a tree called life; which grows
    higher than soul can hope or mind can hide)
    Beijão.

    PS: Questão de gosto: essa tradução não é das melhores.

    By Blogger Lu, at segunda-feira, 19 de março de 2007 às 14:26:00 BRT  

Postar um comentário

<< Home