sexta-feira, 29 de setembro de 2006
Finalmente estão sendo divulgadas as fotos da imagem-símbolo da Era Lula: a dinnheirama apreedndida pela Polícia Feral com os companheiros do PT que tentavam comprar a todo custo um pseudo-dossiê para tentar melar a candidatura do Serra ao Estado de São Paulo. As fotos foram escondidas a todo custo pelo Ministro Thomas Bastos (que proibiu a sua divulgação), mas vazaram para a imprensa por obra e graça de uma alma graciosa de dentro da PF. Estão disponísveis no site da revista Veja (www.veja.com.br). Cuidado: são imagens fortes... E agora? Vai querer ver, Sr. Presidente??? #
segunda-feira, 25 de setembro de 2006
Constitucionalismo
Voltando a falar sobre a prova, percebi que o meu taco pro Direito Constitucional ainda está muito bom! Mas aproveitando as sugestões da prova, colho as seguintes "novidades" em matéria de Teoria da Constituição, que merecem uma pesquisa mais aprofundada (bem, na verdade não é nada tão novo assim não, mas são autores ainda muito pouco explorados em terras tupiniquins):
- Paul Laband;
- Georg Jellinek;
- Carl Schmitt;
- Co(n)stantino Mortati;
- Karl Loewenstein;
- Ernest Wolfgang Bockenforde;
- Ernest Forsthoff;
- Rudolf Smend.
- Paul Laband;
- Georg Jellinek;
- Carl Schmitt;
- Co(n)stantino Mortati;
- Karl Loewenstein;
- Ernest Wolfgang Bockenforde;
- Ernest Forsthoff;
- Rudolf Smend.
Teste de conhecimentos após um breve período de mofagem
Ontem acordei às primeiras luzes de uma manhã chuvosa de domingo. Confesso que estava apreensivo, cansado... Fazia tempo que não me submetia a uma avaliação de conhecimentos. Aguardava-me uma saraivada de 100 balas: 10 de Direito Penal (questões 1-10), 10 de Processual Penal (11-20), 13 de Tributário (21-33), 10 de Previdenciário (34-43), 5 de Ambiental (44-48), 13 de Administrativo (49-61), 8 de Civil (62-69), 4 de Comercial (70-73), 10 de Processual Civil (74-83), 13 de Constitucional (84-96), 1 de Internacional Público (97) e 3 de Internacional Privado (98-100). Ufa! Seriam até 6 horas de prova, mas consumi esse tempo quase todo. Se estava irrequieto para a prova, imagem só o calvário que foi esperar até o início da noite de hoje para conferir o gabarito. Nesta noite não dormi nada. Passei-a na casa da Edilene (sim, ela mesma...). Mas estava completamente insone de asiedade, não conseguia me concentrar meu foco em nada. Sonhei alguma coisa relacionada à água, barco, sei lá... Não sei o que isso significa, mas havia esperança de que iria me dar bem nessa primeira fase. Estava enganado. Há pouco, enquanto confeira meus acertos e erros, constatei que mais do que nunca preciso realmente me preparar, estudar... E muito. A propósito, encontrei a foto aí em cima na net e me emocionei muito. É da antiga Estação Ferroviária de Piranga, lá na Bahia, no interior onde nasci. Vivi os 11 primeiros anos de minha vida naquele bairro, que leva o nome da velha Estação. Ao ver essa foto, só me vem à mente a imagem do meu querido avô materno, Seu José Sabino, o Zé do Vigia, numa referência ao seu pai, meu bisavô, que era vigia daquela Estação, que pertencia a uma companhia de trens chamada Leste. É a Estação da Leste! Meu avô, nascido em 1906, faleceu há alguns anos. Este ano, se vivo fosse, em dezembro ele completaria 100 anos! Clique aqui para acessar o link original da foto, captação poética da imagem feita por Carvalho Pinto. Parabéns, meu caro, e obrigado por me fazer recordar tão doce e prazeiroso momento de minha vida, de minha infância querida, que se perdeu no tempo... #
quarta-feira, 20 de setembro de 2006
Sobre fim e recomeço
Foi com imenso pesar que descobri há pouco que a revista e o site Primeira Leitura não existem mais. A revista deixou de ser editada, o site saiu do ar. E isso desde 19.06.2006. Trabalho incansável do jornalista Reinaldo Azevedo e sua equipe, formada por um time de primeira linha: Liliana Pinheiro, Lucia Boldrini, André Soliani, José Alan Dias, Renato Andrade, Daniela Dias, José Carlos Pegorim, Álvaro Fagundes, Silvana Melati Cintra, Ricardo Jansen Oliveira, Raul Fiuza, Carolina Sueiro, Neuza Tasca, Pedro Fernandes, Vinicius Oliveira, Thais Dutra, Caio Blinder, Eduardo Simantob, Fernando Eichenberg, Hugo Estenssoro, Michel Laub, Helio Ponciano, Raul Jungmann, Roberto Romano, Mario Vitor Santos, José Nêumanne, Roberto Frenkel... Gente, vocês deixarão saudades. O pior de tudo é que só soube disso agora, por acaso, quando tentavar ver o conteúdo on line daquele periódico. A home page estava (e está) indisponível, então fiquei fuçando no Google para ver o que havai acontecido. Alienação momentânea que atribuo ao processo que culminou na minha separação... Êta fasezinha difícil gente! Então transcrevo abaixo a carta de despedida do pessoa da redação da revista:
Sobre fim e recomeço
Por Reinaldo Azevedo e Rui Nogueira
Primeira Leitura, site e revista, encerra hoje a sua trajetória. Mas, como se dizia naqueles tempos em que a disputa política era coberta pelo véu diáfano (Eça!) da fantasia, “a luta continua”. Daqui sairão novos projetos porque seus profissionais levam consigo o muito que já tinham e o tanto que aprenderam. Cada uma das notáveis pessoas que fazem os dois veículos sai daqui mais sábia do que quando entrou. Por uma boa e simples razão: todos soubemos aprender com o trabalho do outro.
Despedidas têm sempre um ar insuportavelmente solene. Mais do que isso: uma vítima de plantão fica gritando o seu veneno autocomplacente, ressentido, amesquinhado: “Não souberam nos compreender!” Mentira! Fomos, sim, muito bem compreendidos ao longo deste tempo. Nada nos faltou, a não ser, obviamente, anúncios em número suficiente para que o projeto pudesse seguir adiante.
Ao longo dos anos, foram muitas as especulações sobre os objetivos da revista e suas vinculações com este ou com aquele partidos, notadamente o PSDB. Em outro ponto do debate, via-se na revista e no site a voz da “direita”, como se a palavra, por si mesma, já devesse provocar um susto. De forma serena, tranqüila — e quem trabalhou aqui sabe disso —, enfrentamos as vagas de maledicência, de desconfiança, de descrédito. Talvez tenha faltado advertir, então, os supostos beneficiários do nosso trabalho que, pisando nos astros distraídos, não teriam percebido a nossa importância para seus objetivos estratégicos. Isso, naturalmente, é uma ironia. A ironia sempre nos fez bem.
E conquistamos, não obstante a patrulha, milhares de leitores tão críticos como fiéis. O site Primeira Leitura chega ao fim com 2 milhões de page views por mês, o que faz dele, talvez, o mais visitado de política e economia do país fora dos grandes portais. A revista, com tiragem de 25 mil exemplares, sempre vendeu, entre assinaturas e bancas, de 70% a 80% do total, marca excelente, a indicar a necessidade de aumentar a tiragem se, para tanto, houvesse recursos. Mas não havia.
Não se espere, obviamente, um texto jubiloso, como que saído da pena de quem logra uma grande vitória e ergue a taça dos campeões morais. Isso é uma rematada besteira. Primeira Leitura seguiu o caminho que achou correto, ciente das dificuldades que ele implicava; fez as críticas que julgou necessárias, tendo claro que a adesão a uns dois ou três dos mitos postos para consumo público poderia facilitar a sua trajetória, mas recusou o cálice do adesismo e repudiou o discurso fácil que nivela os crimes políticos pelo mínimo múltiplo comum, o que é hoje do interesse de quem dá as cartas. Nunca se leu aqui: “O Brasil é assim há 500 anos”. Pela simples e óbvia evidência de que o Brasil não é assim há 500 anos.
Isso tudo revela, desde sempre, os responsáveis pelo que houve e pelo que há: nós! Reinaldo Azevedo e Rui Nogueira escolhemos esse caminho, e olhem que coisa: não seria o caso de recuar um só milímetro. Justamente porque não depende da boa vontade de estranhos para existir, Primeira Leitura fecha. Justamente porque nunca foi outra coisa que não um projeto jornalístico, Primeira Leitura chega ao fim. Justamente porque jamais esteve atrelada a um partido e sempre se financiou no mercado, Primeira Leitura escolhe fechar.
Seus textos já são registros históricos, tanto quanto se pode fazer história no jornalismo, que parece condenado a uma espécie de presente eterno, avesso à teoria política e à memória. Foi possível, durante um bom tempo, provar que se pode fazer de forma diferente. Se não estamos exatamente felizes com o fim da jornada, não quer dizer que não estejamos orgulhosos. Somos os únicos a fazer jornalismo como acreditamos que tem de ser feito? não! Há mais gente por aí.
A Edusp, a Imprensa Oficial e a Editora Unicamp acabam de lançar três volumes intitulados Bilac, O Jornalista, organizado pelo professor Antonio Dimas. Olavo Bilac foi, a um só tempo, um dos mais festejados e satanizados poetas ainda em vida. Sua obra jornalística havia sumido na voragem da crítica literária. Década depois, ressurge inteira, intensa, às vezes quase premonitória.
Assim se vai fazendo história. Bilac é uma boa prova de que nunca se é profeta em seu próprio tempo, em tempo real. Os jornalistas, em particular, ganhariam muito com a leitura dos livros, que são, obviamente, de interesse geral. Mas vejam só: cá estamos nós a dar dicas, a sugerir leituras, a propor caminhos. Essa é a nossa natureza.Agradecemos profundamente, e eles sabem o quanto!, aos profissionais que fizeram Primeira Leitura, site e revista, ser o que é.
Agradecemos profundamente aos leitores que sempre deixaram claro a importância que os veículos tinham em seu cotidiano e em sua formação — mesmo aqueles que verteram admiração em fel da recusa, sem nunca deixar de experimentar o bom veneno. Agradecemos aos anunciantes — nem tantos, é verdade — que confiaram no nosso trabalho e souberam distinguir a publicação de um anúncio do endosso à linha editorial do veículo que o abriga. Porque não é assim nas democracias.
Primeira Leitura conseguiu ter uma cara, um perfil, uma visão de mundo, uma inteireza, sem, no entanto, ser uma igreja de pensamento. Ao contrário: sua maior virtude sempre foi essa unidade na pluralidade das pessoas que faziam os dois veículos. Cada um de nós sai daqui para tocar os seus projetos como pessoas maiúsculas, movidas a paixão, não a chiliques insondáveis da chefia; mobilizadas pelo senso de dever, não pelo terror idiossincrático de “quem manda”; estimuladas pelo respeito intelectual, não por rituais farsescos de humilhação tão comuns em redações e quartéis.
Quando se encontrar no currículo de um profissional a informação de que trabalhou em Primeira Leitura, que se saiba: está ali uma pessoa comprometida com a qualidade. Ela ajudou a fazer o site de política e economia mais visitado do Brasil e a revista que muita gente boa considerava a melhor do país. Os dois veículos chegam ao fim inteiros. Para se multiplicar.
Liliana Pinheiro, Lucia Boldrini, André Soliani, José Alan Dias, Renato Andrade, Daniela Dias, José Carlos Pegorim, Álvaro Fagundes, Silvana Melati Cintra, Ricardo Jansen Oliveira, Raul Fiuza, Carolina Sueiro, Neuza Tasca, Pedro Fernandes, Vinicius Oliveira, Thais Dutra, Caio Blinder, Eduardo Simantob, Fernando Eichenberg, Hugo Estenssoro, Michel Laub, Helio Ponciano, Raul Jungmann, Roberto Romano, Mario Vitor Santos, José Nêumanne, Roberto Frenkel... A toda essa gente, muito obrigado! E agradecemos também a outros grandes profissionais que passaram por Primeira Leitura e ajudaram a fazer a sua história.
Os assinantes da revista receberão no endereço em que a revista é entregue regularmente uma correspondência com as devidas informações e instruções. O site permanecerá no ar por mais algum tempo para que os internautas interessados possam ter acesso a textos que estão no arquivo. Os e-mails dos profissionais de Primeira Leitura estão sendo redirecionados para os respectivos endereços pessoais.A gente se lê por aí.
PS: Reinaldo Azevedo terá, em breve, um blog. Textos seus podem ser lidos nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo.
19 de Junho de 2006
A propósito, não posso deixar de registrar que desde então o Reinaldo Azevedo está escrevendo periodicamente em seu blog. Para acessar, clique aqui. #
Sobre fim e recomeço
Por Reinaldo Azevedo e Rui Nogueira
Primeira Leitura, site e revista, encerra hoje a sua trajetória. Mas, como se dizia naqueles tempos em que a disputa política era coberta pelo véu diáfano (Eça!) da fantasia, “a luta continua”. Daqui sairão novos projetos porque seus profissionais levam consigo o muito que já tinham e o tanto que aprenderam. Cada uma das notáveis pessoas que fazem os dois veículos sai daqui mais sábia do que quando entrou. Por uma boa e simples razão: todos soubemos aprender com o trabalho do outro.
Despedidas têm sempre um ar insuportavelmente solene. Mais do que isso: uma vítima de plantão fica gritando o seu veneno autocomplacente, ressentido, amesquinhado: “Não souberam nos compreender!” Mentira! Fomos, sim, muito bem compreendidos ao longo deste tempo. Nada nos faltou, a não ser, obviamente, anúncios em número suficiente para que o projeto pudesse seguir adiante.
Ao longo dos anos, foram muitas as especulações sobre os objetivos da revista e suas vinculações com este ou com aquele partidos, notadamente o PSDB. Em outro ponto do debate, via-se na revista e no site a voz da “direita”, como se a palavra, por si mesma, já devesse provocar um susto. De forma serena, tranqüila — e quem trabalhou aqui sabe disso —, enfrentamos as vagas de maledicência, de desconfiança, de descrédito. Talvez tenha faltado advertir, então, os supostos beneficiários do nosso trabalho que, pisando nos astros distraídos, não teriam percebido a nossa importância para seus objetivos estratégicos. Isso, naturalmente, é uma ironia. A ironia sempre nos fez bem.
E conquistamos, não obstante a patrulha, milhares de leitores tão críticos como fiéis. O site Primeira Leitura chega ao fim com 2 milhões de page views por mês, o que faz dele, talvez, o mais visitado de política e economia do país fora dos grandes portais. A revista, com tiragem de 25 mil exemplares, sempre vendeu, entre assinaturas e bancas, de 70% a 80% do total, marca excelente, a indicar a necessidade de aumentar a tiragem se, para tanto, houvesse recursos. Mas não havia.
Não se espere, obviamente, um texto jubiloso, como que saído da pena de quem logra uma grande vitória e ergue a taça dos campeões morais. Isso é uma rematada besteira. Primeira Leitura seguiu o caminho que achou correto, ciente das dificuldades que ele implicava; fez as críticas que julgou necessárias, tendo claro que a adesão a uns dois ou três dos mitos postos para consumo público poderia facilitar a sua trajetória, mas recusou o cálice do adesismo e repudiou o discurso fácil que nivela os crimes políticos pelo mínimo múltiplo comum, o que é hoje do interesse de quem dá as cartas. Nunca se leu aqui: “O Brasil é assim há 500 anos”. Pela simples e óbvia evidência de que o Brasil não é assim há 500 anos.
Isso tudo revela, desde sempre, os responsáveis pelo que houve e pelo que há: nós! Reinaldo Azevedo e Rui Nogueira escolhemos esse caminho, e olhem que coisa: não seria o caso de recuar um só milímetro. Justamente porque não depende da boa vontade de estranhos para existir, Primeira Leitura fecha. Justamente porque nunca foi outra coisa que não um projeto jornalístico, Primeira Leitura chega ao fim. Justamente porque jamais esteve atrelada a um partido e sempre se financiou no mercado, Primeira Leitura escolhe fechar.
Seus textos já são registros históricos, tanto quanto se pode fazer história no jornalismo, que parece condenado a uma espécie de presente eterno, avesso à teoria política e à memória. Foi possível, durante um bom tempo, provar que se pode fazer de forma diferente. Se não estamos exatamente felizes com o fim da jornada, não quer dizer que não estejamos orgulhosos. Somos os únicos a fazer jornalismo como acreditamos que tem de ser feito? não! Há mais gente por aí.
A Edusp, a Imprensa Oficial e a Editora Unicamp acabam de lançar três volumes intitulados Bilac, O Jornalista, organizado pelo professor Antonio Dimas. Olavo Bilac foi, a um só tempo, um dos mais festejados e satanizados poetas ainda em vida. Sua obra jornalística havia sumido na voragem da crítica literária. Década depois, ressurge inteira, intensa, às vezes quase premonitória.
Assim se vai fazendo história. Bilac é uma boa prova de que nunca se é profeta em seu próprio tempo, em tempo real. Os jornalistas, em particular, ganhariam muito com a leitura dos livros, que são, obviamente, de interesse geral. Mas vejam só: cá estamos nós a dar dicas, a sugerir leituras, a propor caminhos. Essa é a nossa natureza.Agradecemos profundamente, e eles sabem o quanto!, aos profissionais que fizeram Primeira Leitura, site e revista, ser o que é.
Agradecemos profundamente aos leitores que sempre deixaram claro a importância que os veículos tinham em seu cotidiano e em sua formação — mesmo aqueles que verteram admiração em fel da recusa, sem nunca deixar de experimentar o bom veneno. Agradecemos aos anunciantes — nem tantos, é verdade — que confiaram no nosso trabalho e souberam distinguir a publicação de um anúncio do endosso à linha editorial do veículo que o abriga. Porque não é assim nas democracias.
Primeira Leitura conseguiu ter uma cara, um perfil, uma visão de mundo, uma inteireza, sem, no entanto, ser uma igreja de pensamento. Ao contrário: sua maior virtude sempre foi essa unidade na pluralidade das pessoas que faziam os dois veículos. Cada um de nós sai daqui para tocar os seus projetos como pessoas maiúsculas, movidas a paixão, não a chiliques insondáveis da chefia; mobilizadas pelo senso de dever, não pelo terror idiossincrático de “quem manda”; estimuladas pelo respeito intelectual, não por rituais farsescos de humilhação tão comuns em redações e quartéis.
Quando se encontrar no currículo de um profissional a informação de que trabalhou em Primeira Leitura, que se saiba: está ali uma pessoa comprometida com a qualidade. Ela ajudou a fazer o site de política e economia mais visitado do Brasil e a revista que muita gente boa considerava a melhor do país. Os dois veículos chegam ao fim inteiros. Para se multiplicar.
Liliana Pinheiro, Lucia Boldrini, André Soliani, José Alan Dias, Renato Andrade, Daniela Dias, José Carlos Pegorim, Álvaro Fagundes, Silvana Melati Cintra, Ricardo Jansen Oliveira, Raul Fiuza, Carolina Sueiro, Neuza Tasca, Pedro Fernandes, Vinicius Oliveira, Thais Dutra, Caio Blinder, Eduardo Simantob, Fernando Eichenberg, Hugo Estenssoro, Michel Laub, Helio Ponciano, Raul Jungmann, Roberto Romano, Mario Vitor Santos, José Nêumanne, Roberto Frenkel... A toda essa gente, muito obrigado! E agradecemos também a outros grandes profissionais que passaram por Primeira Leitura e ajudaram a fazer a sua história.
Os assinantes da revista receberão no endereço em que a revista é entregue regularmente uma correspondência com as devidas informações e instruções. O site permanecerá no ar por mais algum tempo para que os internautas interessados possam ter acesso a textos que estão no arquivo. Os e-mails dos profissionais de Primeira Leitura estão sendo redirecionados para os respectivos endereços pessoais.A gente se lê por aí.
PS: Reinaldo Azevedo terá, em breve, um blog. Textos seus podem ser lidos nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo.
19 de Junho de 2006
A propósito, não posso deixar de registrar que desde então o Reinaldo Azevedo está escrevendo periodicamente em seu blog. Para acessar, clique aqui. #
terça-feira, 19 de setembro de 2006
Recaídas
Tivemos umas recaídas no curso desses últimos dias... Dia 11-09, aqui em casa. Dia 15-09, na dela... chegei até a dormir lá... Neste último domingo almoçamos juntos... É, posso dizer que estamos bem assim... É estranho, mas... Bem, quanto à Letícia, ela cometeu a infelicidade de me ligar na noite do dia 11... É claro que não falei com ela. E o pior é que ainda tentou me ligar no telefone aqui de casa. Que situação constrangedora! Mandou-me uma mensagem desaforada via celular. Fazer o quê? Não tive ainda espírito pra falar com ela, mas certamente é uma pendência que terei de resolver - e logo. #
segunda-feira, 11 de setembro de 2006
September 11
Capa do NYT de 12.09.2001. O day after da tragédia...
Para acessar The 9/11 Commission Report - Authorized Edition, clique aqui.
Capa do NYT de 11.09.2006. http://www.nytimes.com/indexes/2006/09/11/pageone/scan/index.html
Para acessar o USA Patriotic Act of 2001, clique aqui.
sábado, 9 de setembro de 2006
Para reflexão
Pesquisava na net material bibliográfico relativo ao tema Direitos Fundamentais, quando me deparei com o curioso título “Da Justiça à Democracia, passando pelos sinos”. Tratava-se de um texto lido pelo prêmio Nobel português José Saramago na clausura do II Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre em 2002. Não o conhecia até então, mas achei-o por demais interessante, por isso o estou disponibilizando para vocês.
Da Justiça à Democracia, passando pelos sinos
Começarei por vos contar em brevíssimas palavras um facto notável da vida camponesa ocorrido numa aldeia dos arredores de Florença há mais de quatrocentos anos. Permito-me pedir toda a vossa atenção para este importante acontecimento histórico porque, ao contrário do que é corrente, a lição moral extraível do episódio não terá de esperar o fim do relato, saltar-vos-á ao rosto não tarda.
Estavam os habitantes nas suas casas ou a trabalhar nos cultivos, entregue cada um aos seus afazeres e cuidados, quando de súbito se ouviu soar o sino da igreja. Naqueles piedosos tempos (estamos a falar de algo sucedido no século XVI) os sinos tocavam várias vezes ao longo do dia, e por esse lado não deveria haver motivo de estranheza, porém aquele sino dobrava melancolicamente a finados, e isso, sim, era surpreendente, uma vez que não constava que aldeia se encontrasse em vias de passamento. Saíram portanto as mulheres à rua, juntaram-se as crianças, deixaram os homens as lavouras e os mesteres, e em pouco tempo estavam todos reunidos no adro da igreja, à espera de que lhes dissessem a quem deveriam chorar. O sino ainda tocou por alguns minutos mais, finalmente calou-se. Instantes depois a porta a porta abria-se e um camponês aparecia no limiar. Ora, não sendo este o homem encarregado de tocar habitualmente o sino, compreende-se que os vizinhos lhe tenham perguntado onde se encontrava o sineiro e quem era o morto. "O sineiro não está aqui, eu é que toquei o sino", foi a resposta do camponês. "Mas então não morreu ninguém?", tomaram os vizinhos, e o camponês respondeu: "Ninguém que tivesse nome e figura de gente, toquei a finados pela Justiça porque a Justiça está morta."
Que acontecera? Acontecera que o ganancioso senhor do lugar (algum conde ou marquês sem escrúpulos) andava desde há tempos a mudar de sítio os marcos das estremas das suas terras, metendo-se para dentro da pequena parcela do camponês, mais e mais reduzida a cada avançada. O lesado tinha começado por protestar e reclamar, depois implorou compaixão, e finalmente resolveu queixar-se às autoridades e acolher-se à protecção da justiça. Tudo sem resultado, a expoliação continuou. Então, desesperado, decidiu anunciar urbi et orbi (uma aldeia tem exacto tamanho do mundo para quem sempre nela viveu) a morte da Justiça. Talvez pensasse que o seu gesto de exaltada indignação lograria comover e pôr a tocar todos os sinos do universo, sem diferença de raças, credos e costumes, que todos eles, sem excepção, o acompanhariam no dobre a finados pela morte da Justiça, e não se calariam até que ela fosse ressucitada. Um clamor tal, voando de casa em casa, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, saltando por cima das fronteiras, lançando pontes sonoras sobre os rios e os mares, por força haveria de acordar o mundo adormecido ... Não sei o que sucedeu depois, não sei se o braço popular foi ajudar o camponês a repor as estremas nos seus sítios, ou se os vizinhos, uma vez que a Justiça havia sido declarada defunta, regressaram resignados, de cabeça baixa e alma sucumbida, à triste vida de todos os dias. É bem certo que a História nunca nos conta tudo...
Suponho ter sido esta a única vez que, em qualquer parte do mundo, um sino, uma campânula de bronze inerte, depois de tanto haver dobrado pela morte de seres humanos, chorou a morte da Justiça. Nunca mais tornou a ouvir-se aquele fúnebre dobre da aldeia de Florença, mas a Justiça continuou e continua a morrer todos os dias. Agora mesmo, neste instante em que vos falo, longe ou aqui ao lado, à porta da nossa casa, alguém a está matando. De cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse existido para aqueles que nela tinham confiado, para aqueles que dela esperavam o que da Justiça todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente justiça. Não a que se envolve em túnicas de teatro e nos confunde com flores de vã retórica judicialista, não a que permitiu que lhe vendassem os olhos e viciassem os pesos da balança, não a da espada que sempre corta mais para um lado que para o outro, mas uma justiça pedestre, uma justiça companheira quotidiana dos homens, uma justiça para quem o justo seria o mais exacto e rigoroso sinônimo do ético, uma justiça que chegasse a ser tão indispensável à felicidade do espírito como indispensável a vida e o alimento do corpo. Uma justiça exercida pelos tribunais, sem dúvida, sempre que a isso determinasse a lei, mas também, e sobretudo, uma justiça que fosse a emanação espontânea da própria sociedade em acção, uma justiça em que se manifestasse, como um imperativo moral, o respeito pelo direito a ser que a cada ser humano assiste. Mas os sinos, felizmente, não tocavam apenas para planger aqueles que morriam. Tocavam também para assinalar as horas do dia e da noite, para chamar à festa ou à devoção dos crentes, e houve um tempo, não tão distante assim, em que o seu toque a rebate era o que convocava o povo para acudir às catástrofes, às cheias e aos incêndios, aos desastres, a qualquer perigo que ameaçasse a comunidade. Hoje, o papel social dos sinos encontra-se limitado ao cumprimento das obrigações rituais e o gesto iluminado do camponês de Florença seria visto como obra desatinada de um louco ou, pior ainda, como simples caso de polícia. Outros e diferentes são os sinos que hoje defendem e afirmam a possibilidade, enfim, da implantação no mundo daquela justiça companheira dos homens, daquela justiça que é condição da felicidade do espírito e até, por mais surpreendente que possa parecer-nos, condição do próprio alimento do corpo. Houvesse essa justiça, e nem um só ser humano mais morreria de fome ou de tantas doenças que são curáveis para uns, mas não para outros. Houvesse essa justiça, e a existência não seria, para mais de metade da humanidade, a condenação terrível que objectivamente tem sido. Esses sinos novos cuja voz se vem espalhando, cada vez mais forte, por todo o mundo são os múltiplos movimentos de resistência e acção social que pugnam pelo estabelecimento de uma nova justiça distributiva e comutativa que todos os seres humanos possam chegar a reconhecer como intrinsecamente sua, uma justiça protectora da liberdade e do direito, não de nenhuma de suas negações. Tenho dito que para essa justiça dispomos já de um código de aplicação prática ao alcance de qualquer compreensão, e que esse código se encontra consignado desde há cinquenta anos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aquelas trinta direitos básicos e essenciais de que hoje só vagamente se fala, quando não sistematicamente se silencia, mais desprezados e conspurcados nestes dias do que o foram, há quatrocentos anos, a propriedade e a liberdade do camponês de Florença. E também tenha dito que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tal qual se encontra redigida, e sem necessidade de lhe alterar sequer uma vírgula, poderia substituir com vantagem, no que respeita a rectidão de princípios e clareza de objectivos, os programas de todos os partidos políticos do orbe, nomeadamente os da denominada esquerda, anquilosados em fórmulas caducas, alheios ou impotentes para enfrentar as realidades brutais do mundo actual, fechando os olhos às já evidentes e temíveis ameaças que o futuro está a preparar contra aquela dignidade racional e sensível que imaginávamos ser a suprema aspiração dos seres humanos. Acrescentarei que as mesmas razões que me levam a referir-se nestes termos aos partidos políticos em geral, as aplico por igual aos sindicatos locais, e, em consequência, ao movimento sindical internacional no seu conjunto. De um modo consciente ou inconsciente, o dócil e burocratizado sindicalismo que hoje nos resta é, em grande parte, responsável pelo adormecimento social decorrente do processo de globalização econômica em curso. Não me alegra dizê-lo, mas não poderia calá-lo. E, ainda, se me autorizam a acrescentar algo da minha lavra particular às fábulas de La Fontaine, então direi que, se não interviermos a tempo, isto é, já, o rato dos direitos humanos acabará por ser implacavelmente devorado pelo gato da globalização econômica.
E a democracia, esse milenário invento de uns atenienses ingênuos para quem ela significaria, nas circunstâncias sociais e políticas específicas do tempo, e segundo a expressão consagrada, um governo do povo, pelo povo e para o povo? Ouço muitas vezes argumentar a pessoas sinceras, de boa fé comprovada, e a outras que essa aparência de benignidade têm interesse em simular, que, sendo embora uma evidência indesmentível o estado de catástrofe em que se encontra a maior parte do planeta, será precisamente no quadro de um sistema democrático geral que mais probabilidades teremos de chegar à consecução plena ou ao menos satisfatória dos direitos humanos. Nada mais certo, sob condição de que fosse efectivamente democrático o sistema de governo e de gestão da sociedade a que actualmente vimos chamando democracia. E não o é. É verdade que podemos votar, é verdade que podemos, por delegação da partícula de soberania que se nos reconhece como cidadãos eleitores e normalmente por via partidária, escolher os nossos representantes no parlamento, é verdade, enfim, que da relevância numérica de tais representações e das combinações políticas que a necessidade de uma maioria vier a impor sempre resultará um governo. Tudo isso é verdade, mais é igualmente verdade que a possibilidade de acção democrática começa e acaba aí. O eleitor poderá tirar do poder um governo que não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, que o seu voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer efeito visível sobre a única e real força que governa o mundo, e portanto o seu país e a sua pessoa: refiro-me, obviamente, ao poder económico, em particular à parte dele, sempre em aumento, gerida pelas empresas multinacionais de acordo com estratégias de domínio que nada têm que ver com aquele bem comum a que, por definição, a democracia aspira. Todos sabemos que é assim, e contudo, por uma espécie de automatismo verbal e mental que não nos deixa ver a nudez crua dos factos, continuamos a falar de democracia como se se tratasse de algo vivo e actuante, quando dela pouco mais nos resta que um conjunto de formas ritualizadas, os inócuos passes e os gestos de uma espécie de missa laica. E não nos apercebemos, como se para isso não bastasse ter olhos, de que os nossos governos, esses que para o bem ou para o mal elegemos e de que somos portando os primeiros responsáveis, se vão tomando cada vez mais em meros "comissários políticos" do poder económico, com objectiva missão de produzirem as leis que a esse poder conviverem, para depois, envolvidas nos açúcares da publicidade oficial e particular interessada, serem introduzidas no mercado social sem suscitar demasiados protestos, salvo os certas conhecidas minorias eternamente descontentes.
Que fazer? Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito de estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute neste nosso mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute. Ora, se não estou em erro, se não sou incapaz de somar dois e dois, então, entre tantas outras discussões necessárias ou indispensáveis, é urgente, antes que se nos tome demasiado tarde, promover um debate mundial sobre a democracia e as causas da sua decadência, sobre a intervenção dos cidadãos na vida política e social, sobre as relações entre os Estados e poder económico e financeiro mundial, sobre aquilo que afirma e aquilo que nega a democracia, sobre o direito à felicidade e a uma existência digna, sobre as misérias e as esperanças da humanidade, ou, falando com menos retórica, dos simples seres humanos que a compõem, um por um e todos juntos. Não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana. E assim é que estamos vivendo.
Não tenho mais que dizer. Ou sim, apenas uma palavra para pedir um instante de silêncio. O camponês de Florença acaba de subir uma vez mais à torre da igreja, o sino vai tocar. Ouçamo-lo, por favor.
José Saramago.
[Tirado do sítio web do "Fórum Social Mundial 2002-Governo do Estado do Rio Grande do Sul"] #
Da Justiça à Democracia, passando pelos sinos
Começarei por vos contar em brevíssimas palavras um facto notável da vida camponesa ocorrido numa aldeia dos arredores de Florença há mais de quatrocentos anos. Permito-me pedir toda a vossa atenção para este importante acontecimento histórico porque, ao contrário do que é corrente, a lição moral extraível do episódio não terá de esperar o fim do relato, saltar-vos-á ao rosto não tarda.
Estavam os habitantes nas suas casas ou a trabalhar nos cultivos, entregue cada um aos seus afazeres e cuidados, quando de súbito se ouviu soar o sino da igreja. Naqueles piedosos tempos (estamos a falar de algo sucedido no século XVI) os sinos tocavam várias vezes ao longo do dia, e por esse lado não deveria haver motivo de estranheza, porém aquele sino dobrava melancolicamente a finados, e isso, sim, era surpreendente, uma vez que não constava que aldeia se encontrasse em vias de passamento. Saíram portanto as mulheres à rua, juntaram-se as crianças, deixaram os homens as lavouras e os mesteres, e em pouco tempo estavam todos reunidos no adro da igreja, à espera de que lhes dissessem a quem deveriam chorar. O sino ainda tocou por alguns minutos mais, finalmente calou-se. Instantes depois a porta a porta abria-se e um camponês aparecia no limiar. Ora, não sendo este o homem encarregado de tocar habitualmente o sino, compreende-se que os vizinhos lhe tenham perguntado onde se encontrava o sineiro e quem era o morto. "O sineiro não está aqui, eu é que toquei o sino", foi a resposta do camponês. "Mas então não morreu ninguém?", tomaram os vizinhos, e o camponês respondeu: "Ninguém que tivesse nome e figura de gente, toquei a finados pela Justiça porque a Justiça está morta."
Que acontecera? Acontecera que o ganancioso senhor do lugar (algum conde ou marquês sem escrúpulos) andava desde há tempos a mudar de sítio os marcos das estremas das suas terras, metendo-se para dentro da pequena parcela do camponês, mais e mais reduzida a cada avançada. O lesado tinha começado por protestar e reclamar, depois implorou compaixão, e finalmente resolveu queixar-se às autoridades e acolher-se à protecção da justiça. Tudo sem resultado, a expoliação continuou. Então, desesperado, decidiu anunciar urbi et orbi (uma aldeia tem exacto tamanho do mundo para quem sempre nela viveu) a morte da Justiça. Talvez pensasse que o seu gesto de exaltada indignação lograria comover e pôr a tocar todos os sinos do universo, sem diferença de raças, credos e costumes, que todos eles, sem excepção, o acompanhariam no dobre a finados pela morte da Justiça, e não se calariam até que ela fosse ressucitada. Um clamor tal, voando de casa em casa, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, saltando por cima das fronteiras, lançando pontes sonoras sobre os rios e os mares, por força haveria de acordar o mundo adormecido ... Não sei o que sucedeu depois, não sei se o braço popular foi ajudar o camponês a repor as estremas nos seus sítios, ou se os vizinhos, uma vez que a Justiça havia sido declarada defunta, regressaram resignados, de cabeça baixa e alma sucumbida, à triste vida de todos os dias. É bem certo que a História nunca nos conta tudo...
Suponho ter sido esta a única vez que, em qualquer parte do mundo, um sino, uma campânula de bronze inerte, depois de tanto haver dobrado pela morte de seres humanos, chorou a morte da Justiça. Nunca mais tornou a ouvir-se aquele fúnebre dobre da aldeia de Florença, mas a Justiça continuou e continua a morrer todos os dias. Agora mesmo, neste instante em que vos falo, longe ou aqui ao lado, à porta da nossa casa, alguém a está matando. De cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse existido para aqueles que nela tinham confiado, para aqueles que dela esperavam o que da Justiça todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente justiça. Não a que se envolve em túnicas de teatro e nos confunde com flores de vã retórica judicialista, não a que permitiu que lhe vendassem os olhos e viciassem os pesos da balança, não a da espada que sempre corta mais para um lado que para o outro, mas uma justiça pedestre, uma justiça companheira quotidiana dos homens, uma justiça para quem o justo seria o mais exacto e rigoroso sinônimo do ético, uma justiça que chegasse a ser tão indispensável à felicidade do espírito como indispensável a vida e o alimento do corpo. Uma justiça exercida pelos tribunais, sem dúvida, sempre que a isso determinasse a lei, mas também, e sobretudo, uma justiça que fosse a emanação espontânea da própria sociedade em acção, uma justiça em que se manifestasse, como um imperativo moral, o respeito pelo direito a ser que a cada ser humano assiste. Mas os sinos, felizmente, não tocavam apenas para planger aqueles que morriam. Tocavam também para assinalar as horas do dia e da noite, para chamar à festa ou à devoção dos crentes, e houve um tempo, não tão distante assim, em que o seu toque a rebate era o que convocava o povo para acudir às catástrofes, às cheias e aos incêndios, aos desastres, a qualquer perigo que ameaçasse a comunidade. Hoje, o papel social dos sinos encontra-se limitado ao cumprimento das obrigações rituais e o gesto iluminado do camponês de Florença seria visto como obra desatinada de um louco ou, pior ainda, como simples caso de polícia. Outros e diferentes são os sinos que hoje defendem e afirmam a possibilidade, enfim, da implantação no mundo daquela justiça companheira dos homens, daquela justiça que é condição da felicidade do espírito e até, por mais surpreendente que possa parecer-nos, condição do próprio alimento do corpo. Houvesse essa justiça, e nem um só ser humano mais morreria de fome ou de tantas doenças que são curáveis para uns, mas não para outros. Houvesse essa justiça, e a existência não seria, para mais de metade da humanidade, a condenação terrível que objectivamente tem sido. Esses sinos novos cuja voz se vem espalhando, cada vez mais forte, por todo o mundo são os múltiplos movimentos de resistência e acção social que pugnam pelo estabelecimento de uma nova justiça distributiva e comutativa que todos os seres humanos possam chegar a reconhecer como intrinsecamente sua, uma justiça protectora da liberdade e do direito, não de nenhuma de suas negações. Tenho dito que para essa justiça dispomos já de um código de aplicação prática ao alcance de qualquer compreensão, e que esse código se encontra consignado desde há cinquenta anos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aquelas trinta direitos básicos e essenciais de que hoje só vagamente se fala, quando não sistematicamente se silencia, mais desprezados e conspurcados nestes dias do que o foram, há quatrocentos anos, a propriedade e a liberdade do camponês de Florença. E também tenha dito que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tal qual se encontra redigida, e sem necessidade de lhe alterar sequer uma vírgula, poderia substituir com vantagem, no que respeita a rectidão de princípios e clareza de objectivos, os programas de todos os partidos políticos do orbe, nomeadamente os da denominada esquerda, anquilosados em fórmulas caducas, alheios ou impotentes para enfrentar as realidades brutais do mundo actual, fechando os olhos às já evidentes e temíveis ameaças que o futuro está a preparar contra aquela dignidade racional e sensível que imaginávamos ser a suprema aspiração dos seres humanos. Acrescentarei que as mesmas razões que me levam a referir-se nestes termos aos partidos políticos em geral, as aplico por igual aos sindicatos locais, e, em consequência, ao movimento sindical internacional no seu conjunto. De um modo consciente ou inconsciente, o dócil e burocratizado sindicalismo que hoje nos resta é, em grande parte, responsável pelo adormecimento social decorrente do processo de globalização econômica em curso. Não me alegra dizê-lo, mas não poderia calá-lo. E, ainda, se me autorizam a acrescentar algo da minha lavra particular às fábulas de La Fontaine, então direi que, se não interviermos a tempo, isto é, já, o rato dos direitos humanos acabará por ser implacavelmente devorado pelo gato da globalização econômica.
E a democracia, esse milenário invento de uns atenienses ingênuos para quem ela significaria, nas circunstâncias sociais e políticas específicas do tempo, e segundo a expressão consagrada, um governo do povo, pelo povo e para o povo? Ouço muitas vezes argumentar a pessoas sinceras, de boa fé comprovada, e a outras que essa aparência de benignidade têm interesse em simular, que, sendo embora uma evidência indesmentível o estado de catástrofe em que se encontra a maior parte do planeta, será precisamente no quadro de um sistema democrático geral que mais probabilidades teremos de chegar à consecução plena ou ao menos satisfatória dos direitos humanos. Nada mais certo, sob condição de que fosse efectivamente democrático o sistema de governo e de gestão da sociedade a que actualmente vimos chamando democracia. E não o é. É verdade que podemos votar, é verdade que podemos, por delegação da partícula de soberania que se nos reconhece como cidadãos eleitores e normalmente por via partidária, escolher os nossos representantes no parlamento, é verdade, enfim, que da relevância numérica de tais representações e das combinações políticas que a necessidade de uma maioria vier a impor sempre resultará um governo. Tudo isso é verdade, mais é igualmente verdade que a possibilidade de acção democrática começa e acaba aí. O eleitor poderá tirar do poder um governo que não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, que o seu voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer efeito visível sobre a única e real força que governa o mundo, e portanto o seu país e a sua pessoa: refiro-me, obviamente, ao poder económico, em particular à parte dele, sempre em aumento, gerida pelas empresas multinacionais de acordo com estratégias de domínio que nada têm que ver com aquele bem comum a que, por definição, a democracia aspira. Todos sabemos que é assim, e contudo, por uma espécie de automatismo verbal e mental que não nos deixa ver a nudez crua dos factos, continuamos a falar de democracia como se se tratasse de algo vivo e actuante, quando dela pouco mais nos resta que um conjunto de formas ritualizadas, os inócuos passes e os gestos de uma espécie de missa laica. E não nos apercebemos, como se para isso não bastasse ter olhos, de que os nossos governos, esses que para o bem ou para o mal elegemos e de que somos portando os primeiros responsáveis, se vão tomando cada vez mais em meros "comissários políticos" do poder económico, com objectiva missão de produzirem as leis que a esse poder conviverem, para depois, envolvidas nos açúcares da publicidade oficial e particular interessada, serem introduzidas no mercado social sem suscitar demasiados protestos, salvo os certas conhecidas minorias eternamente descontentes.
Que fazer? Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito de estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute neste nosso mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute. Ora, se não estou em erro, se não sou incapaz de somar dois e dois, então, entre tantas outras discussões necessárias ou indispensáveis, é urgente, antes que se nos tome demasiado tarde, promover um debate mundial sobre a democracia e as causas da sua decadência, sobre a intervenção dos cidadãos na vida política e social, sobre as relações entre os Estados e poder económico e financeiro mundial, sobre aquilo que afirma e aquilo que nega a democracia, sobre o direito à felicidade e a uma existência digna, sobre as misérias e as esperanças da humanidade, ou, falando com menos retórica, dos simples seres humanos que a compõem, um por um e todos juntos. Não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana. E assim é que estamos vivendo.
Não tenho mais que dizer. Ou sim, apenas uma palavra para pedir um instante de silêncio. O camponês de Florença acaba de subir uma vez mais à torre da igreja, o sino vai tocar. Ouçamo-lo, por favor.
José Saramago.
[Tirado do sítio web do "Fórum Social Mundial 2002-Governo do Estado do Rio Grande do Sul"] #
segunda-feira, 4 de setembro de 2006
O medo
Faço meus teus versos, ó Poeta, porém ressalvo que a referência à Cidade Maravilhosa deva ser, no meu caso, tida como sendo à Capital da República:
A bruxa
(Carlos Drummond de Andrade - José - 1942)
Nesta cidade do Rio,
de dois milhões de habitantes,
estou sozinho no quarto,
estou sozinho na América.
Estarei mesmo sozinho?
Ainda há pouco um ruído
anunciou vida a meu lado.
Certo não é vida humana,
mas é vida. E sinto a bruxa
presa na zona de luz.
De dois milhões de habitantes!
E nem precisava tanto...
Precisava de um amigo,
desses calados, distantes,
que lêem verso de Horácio
mas secretamente influem
na vida, no amor, na carne.
Estou só, não tenho amigo,
e a essa hora tardia
como procurar amigo?
E nem precisava tanto.
Precisava de mulherque entrasse nesse minuto,
recebesse este carinho,
salvasse do aniquilamento
um minuto e um carinho loucos
que tenho para oferecer.
Em dois milhões de habitantes,
quantas mulheres prováveis
interrogam-se no espelho
medindo o tempo perdido
até que venha a manhãtrazer leite, jornal e calma.
Porém a essa hora vazia
como descobrir mulher?
Esta cidade do Rio!
Tenho tanta palavra meiga,
conheço vozes de bichos,
sei os beijos mais violentos,
viajei, briguei, aprendi.
Estou cercado de olhos,
de mãos, afetos, procuras.
Mas se tento comunicar-me,
o que há é apenas a noite
e uma espantosa solidão.
Companheiros, escutai-me!
Essa presença agitada
querendo romper a noite
não é simplesmente a bruxa.
É antes a confidência
exalando-se de um homem. #
4 de setembro de 1992, quando tudo começou...
São 00:44h do dia 4 de setembro de 2006. Estou sem sono, triste, inquieto, nostálgico... Chove lá fora, uma chuva meio que fora de época aqui pra Brasília... (chove uma triste chuva de resignação, como cadidamente profetizou o meu querido Manuel Bandeira). Ouço o rádio sintonizado numa estação que toca músicas antigas, de minha época, de minha juventude. Já tomei duas smirnoff ice. De repente, um estalo: minha mente está é percorrendo o mesmo dia de hoje, catorze anos atrás... Foi naquela noite que havíamos começado a namorar... Era uma sexta-feira, show do Fábio Jr. na Boate Trevo, em Petrolina. Foi ali que tudo começou... Estou mesmo nostálgico, mas não dá pra evitar... Queria dar notícia de coisas de outra natureza, mas sinto que não está sendo fácil... É, lia Drumond quando me veio tudo isso à tona... Estou sentimental demais, sozinho demais, com o coração seco demais... Como dói!... Nem tento mais conter as lágrimas... Será que ela lembrou?... Ha, Edilene... por que?.... #