Antonioni, cineasta da angústia existencial, morre aos 94 anos
ROMA (Reuters) - Michelangelo Antonioni, um dos mais influentes cineastas italianos do pós-guerra, morreu aos 94 anos, deixando como herança filmes que retratam a angústia existencial e a incomunicabilidade da sociedade moderna.
A carreira de Antonioni abrangeu seis décadas. Em 1995, quando sofreu um derrame e mal conseguia falar, o diretor foi homenageado com um Oscar pelo conjunto de sua obra.
Entre seus trabalhos mais famosos estão o indicado ao Oscar "Blow-up -- Depois Daquele Beijo", "Zabriskie Point" e a trilogia internacionalmente aclamada composta por "A Aventura", "A Noite" e "O Eclipse".
Sua morte, na noite de segunda-feira, seguiu-se à do diretor sueco Ingmar Bergman, morto no mesmo dia, aos 89 anos.
"Pela segunda vez em 24 horas o mundo do cinema sente-se órfão", disse Gilles Jacob, o veterano presidente do Festival de Cinema de Cannes, segundo a agência de notícias italiana Ansa.
Jacob descreveu Antonioni como "alquimista da intimidade, o arquiteto do tempo e do espaço no cinema contemporâneo".
O presidente italiano Giorgio Napolitano disse que a Itália "perdeu um dos maiores protagonistas do cinema e um dos maiores exploradores da expressão no século 20".
O corpo de Antonioni será velado com honras de Estado na manhã da quarta-feira, na sede da prefeitura de Roma. Seu enterro será na quinta-feira em Ferrara, sua cidade natal.
Seus filmes propositalmente lentos e oblíquos nem sempre agradavam ao grande público, mas filmes como "A Aventura" fizeram seu trabalho ser visto como fundamental por diretores como Martin Scorsese, que o descreveu como um poeta com uma câmera na mão.
CRÍTICO DE CINEMA
Nascido em 1912 em Ferrara, no norte da Itália, Antonioni estudou administração e economia na universidade de Bolonha e chegou a trabalhar por um período curto em um banco, antes de tornar-se crítico de cinema na década de 1930.
Seu primeiro envolvimento real com a cinematografia aconteceu quando ele ajudou a escrever o roteiro de "Un Piloto Ritorna" (1942), de Roberto Rossellini.
Antonioni dirigiu seu primeiro longa-metragem, "Crimes d'alma" ("Cronaca de un amore"), em 1950.
Nas duas décadas seguintes, ele dirigiu alguns dos maiores astros do cinema italiano do pós-guerra, como Marcello Mastroianni. Mas foi apenas na década de 1960 que ele surgiu no cenário internacional.
Depois de ganhar críticas elogiosas no Festival de Cannes de 1957 com "Il Grido" (O Grito), Antonioni teve seu primeiro grande sucesso internacional em 1960 com "A Aventura", que explorava a incomunicabilidade e solidão da sociedade moderna.
Seu segundo filme a ganhar destaque internacional foi "Blow-up - Depois Daquele Beijo" (1966), falado em inglês e ambientado na Londres dos anos 1960, que fez dele um diretor cult entre cinéfilos e outros cineastas.
Muitos o saudaram como fundador do cinema europeu de vanguarda, mas parte do público achava seus filmes arrastados e pretensiosos.
Tendo se afastado do cinema depois de sofrer um derrame na década de 1980, Antonioni retornou em 1995 com o aclamado "Além das Nuvens", baseado em contos de sua própria autoria. O filme foi co-dirigido pelo alemão Wim Wenders. Seu último trabalho, em 2004, foi um segmento do longa coletivo "Eros".
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